Epidemia de dengue é tema do Caminhos da Reportagem deste domingo

Gabriel Sylvestre, líder de operações da World Mosquito Program no Brasil - Frame/TV Brasil

“O Wolbito é a junção de Wolbachia com mosquito. Foi descoberto que essa bactéria tinha um efeito protetor em moscas da fruta. Aquela mosquinha que vem na fruteira em casa, ela tem Wolbachia e não se infecta. A ideia era transferir esse modelo para um inseto que fosse importante para a saúde humana. Então, chegou-se à conclusão que o Aedes aegypti precisava receber essa bactéria para que houvesse possivelmente o mesmo efeito que havia com as moscas. Foi um trabalho de sucesso e, em 2009, saiu o primeiro grande trabalho científico que mostrava o efeito protetor da Wolbachia para a dengue”, explica Sylvestre.

Ele participou, então, da liberação de milhares desses mosquitos em Niterói, no Rio de Janeiro, onde observou-se uma enorme redução na contaminação pelo vírus da dengue.

A secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde, Ethel Maciel, afirma que, com a liberação de Wolbitos, já é possível perceber uma diferença de contaminação entre as cidades de Niterói e do Rio de Janeiro.

Ethel Maciel, secretária de Vigilância em Saúde e Ambiente do Ministério da Saúde - Frame/TV Brasil

“Niterói fez a implantação [do método com Wolbitos], foi a cidade palco da iniciativa. E nós estamos vendo poucos casos de dengue agora em Niterói. Então duas cidades muito próximas, que têm uma mobilidade grande de pessoas entre elas, com situação epidemiológica muito diferente”, avalia Ethel.

Vacina da dengue

Outra iniciativa importante é a vacinação. O Instituto Butantan, em São Paulo, está desenvolvendo a primeira vacina contra a dengue totalmente brasileira. Fernanda Boulos, diretora médica do Instituto, explica que é uma vacina de vírus vivo atenuado, ou seja, é um vírus que passou por um processo de atenuação, de forma que ele não é capaz de causar a doença.

“A vacina da dengue é desafiadora, porque a gente tem quatro sorotipos do vírus. Então nossa ideia foi de colocar os quatro sorotipos dentro da mesma vacina, com a intenção de proteger contra qualquer dengue que esteja circulando”, explica Fernanda.

Os testes dessa vacina já estão na conclusão da terceira fase e os resultados serão enviados até o final deste ano para avaliação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), segundo a diretora do Butantan. Após análise pelo órgão regulador federal, a vacina poderá ser aprovada e incorporada ao calendário vacinal do Sistema Único de Saúde (SUS).

Instituto Butantan está desenvolvendo a primeira vacina contra a dengue totalmente brasileira - Frame/TV Brasil

Fernanda explica que essa vacina brasileira será aplicada em uma única dose e que os testes mostraram uma efetividade de 80% de proteção. “A vacina protege contra 80% dos casos de dengue. Essa eficácia quer dizer que o grupo que recebeu a vacina teve 80% menos doença do que o grupo que recebeu o placebo.”

Ethel Maciel afirmou que, “do ponto de vista da operacionalização no serviço de saúde, é uma vacina muito mais fácil, pois não é preciso buscar a pessoa para a segunda dose. Então temos a possibilidade de ter uma cobertura maior da vacinação e facilitar muito a estratégia de controle”.

Vigilância ambiental

O programa mostra também o trabalho e a importância dos vigilantes ambientais, que visitam as casas, inspecionando e orientando a população sobre o combate aos focos do mosquito. De acordo com o Ministério da Saúde, 75% dos criadouros estão nas residências.

Herica Bassani, agente de vigilância ambiental em Brasília, fala sobre a importância de as pessoas abrirem suas casas para esses profissionais. “Alguns têm um pouco de receio, por medo ou por outros motivos que não sei. E acabam não deixando o agente adentrar na sua residência. Mas é importante que ela saiba que, além do trabalho do agente, ela tem que colaborar também. É a saúde de todos que está em jogo.”