“Brasilianista tem que gostar de desafios”, diz professora tcheca de literatura brasileira

“Brasilianista tem que gostar de desafios”, diz professora tcheca de literatura brasileira

Uma das poucas brasilianistas da República Tcheca, ?árka Grauová dirige Departamento de Estudos Luso-brasileiros de uma das mais tradicionais universidades da Europa. A professora de literatura brasileira, ?árka Graouvá

RFI

?árka Grauová é uma das poucas brasilianistas tchecas. Ela divulga e ensina a literatura brasileira na Universidade Carolina de Praga, uma das mais tradicionais da Europa, onde dirige o Departamento de Estudos Luso-brasileiros. A professora e tradutora se queixa da falta de apoio de Brasília e afirma que para “ser brasilianista, tem que gostar de desafios”.

O interesse de ?árka Grauová pelo português e pela literatura brasileira não foi voluntário. Ela entrou na universidade em 1983, ainda na época do regime comunista, quando a República Tcheca era a Tchecoslováquia e integrava o bloco soviético. A jovem queria aprender inglês, mas a instituição impôs o português como complemento obrigatório. “Por uma série de coincidências, acabei fazendo português, mais precisamente o português do Brasil, e não estou arrependida!”

No início, aprendia mais o português de Portugal, que era ensinado na universidade por uma leitora do Instituto Camões. A “virada brasileira” só aconteceu no final do curso, após a dissertação de mestrado feita sobre Machado de Assis.

Mas a atual diretora do Departamento de Estudos luso-brasileiros da Universidade de Praga é minoria. Portugal e a cultura portuguesa interessam atualmente muito mais os alunos tchecos. Ela aponta duas razões para isso: “A primeira é que nós temos em Praga um ótimo centro de língua portuguesa do Instituto Camões, que organiza programas fascinantes que os alunos adoram. A segunda razão é que nossos alunos, assim como todos os alunos europeus, têm o direito de passar um ou dois semestres em uma universidade estrangeira pelo programa Erasmus. Eles vão a Portugal e obviamente nas universidades locaiseles dão literatura portuguesa, depois africanas de expressão portuguesa e só em terceiro lugar a brasileira”, explica.

Resumindo, Portugal tem uma política cultural no estrangeiro mais expressiva e ?árka Grauová espera que os atuais cortes nas universidades, anunciados pelo governo brasileiro, não compliquem ainda mais as coisas. “Nós tivemos um leitor da rede do leitorado do Itamaraty e o leitorado acabou faz dois ou três anos. Acho uma grande pena porque, na minha opinião, Praga é realmente um centro dos estudos brasileiros na Europa central e do leste”, salienta.

Traduções

Além de professora, ?árka Grauová é também tradutora. O primeiro livro traduzido para o tcheco foi “Memórias Póstumas Brás Cubas”, de Machado de Assis. Depois vieram muitos outros, como “Macunaíma”, de Mario de Andrade, e até “Budapeste”, de Chico Buarque.

Ela confessa que prefere traduzir autores mortos e que não é uma grande entusiasta da literatura contemporânea brasileira. Entre os escritores atuais que aprecia está Luiz Ruffato e seu último romance, “O verão tardio”, um livro que ela gostaria de traduzir um dia.

Mas a literatura portuguesa também domina o setor editorial tcheco, devido ao apoio constante de Lisboa às traduções.

Um evento que pode colaborar para reverter esse quadro e ajudar na divulgação da cultura e da literatura brasileira na República Tcheca é o congresso da Associação de Brasilianistas na Europa (ABRE). O evento, realizado em Paris neste ano, acontece em 2021 em Praga. “As pessoas me dão os parabéns. Eu digo: parabéns é daqui a dois anos. Agora é boa sorte. Eu espero que a gente tenha estrutura para fazer isso. Pensei muito antes de aceitar. É um desafio e um brasilianista tem que gostar dos desafios, porque quem não gosta vai para a literatura alemã”, brinca.