Tinta aplicada em cascos de embarcações pode intoxicar peixes na Amazônia, aponta pesquisa

Tinta aplicada em cascos de embarcações pode intoxicar peixes na Amazônia, aponta pesquisa
Presença de nanopartículas de cobre é capaz de causar danos no aparelho respiratório de peixes. Tinta aplicada em cascos de embarcações pode intoxicar peixes na Amazônia, aponta pesquisa

Foto: divulgação Adapta

Uma pesquisa do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, apontou que substâncias anti-incrustantes, presentes nas tintas aplicadas em cascos de embarcações podem causar intoxicações em peixes na Amazônia. O estudo observou que a presença de nanopartículas de cobre é capaz de causar danos no aparelho respiratório de peixes de pequeno porte.

De acordo com o instituto, o estudo começou em 2015 com a proposta de saber como os peixes lidam com agentes tóxicos despejados nas águas em quantidades relativamente pequenas.

Com isso, o estudo escolheu avaliar o efeito do metal cobre dissolvido e também do cobre na sua forma de nanopartícula, uma vez que ele está presente na composição das tintas usadas para pintar cascos de embarcações.

A autora da pesquisa de mestrado, Susana Braz-Mota, explicou que esse tipo específico de produto impede que diferentes organismos possam aderir ao casco das embarcações.

"No entanto, essa tinta libera cobre continuamente para o ambiente e causa impacto nos sistemas fisiológicos e bioquímicos dos animais", explica por meio da assessoria, Susana, que também é bióloga.

Uma das principais conclusões da pesquisa, de acordo com o Inpa, é que as nanopartículas aderem às brânquias, órgão respiratório dos peixes, modificando as estruturas e, em longo prazo, dificultando a respiração dos peixes.

"O dano às brânquias afeta toda a estrutura de modelagem respiratória, o que tem como consequência alterações na fisiologia do peixe. Isso foi notado em análises histológicas, que mostraram que os animais expostos tiveram o aparelho respiratório danificado", explicou.

O trabalho encontrou danos como fusão das lamelas, proliferação celular, descolamento da parede celular, entre outras patologias que afetam diretamente a respiração, osmorregulação e metabolismo desses animais.

As espécies avaliadas na pesquisa foram o cardinal (Paracheirodon axelrodi) e o cará-anão (Apistogramma agassizii). Esses peixes são muito apreciados por praticantes de aquarismo.

As nanopartículas presentes nas tintas anti-incrustantes têm o objetivo de impedir a incrustação ou retardar o crescimento de organismos que aderem à superfície de embarcações e afetam a velocidade na água. Elas também protegem o casco de efeitos da corrosão.

Além do impacto no aparelho respiratório dos peixes foi possível detectar problemas secundários como o aumento de radicais livres e alterações na capacidade de manter os sais internos nos organismos dos animais. Os radicais livres são moléculas de oxigênio que podem causar danos em proteínas, no DNA, em lipídios e até na membrana das células. Já a desregulação iônica afeta o transporte de sais, como sódio e potássio, importantes para a homeostase, que é a capacidade de adaptação do corpo do animal ao meio ambiente de forma equilibrada. Os danos mais leves provocam o envelhecimento das células e o pior, provoca o aparecimento de células cancerígenas.

“Tudo isso pode afetar a capacidade de reprodução e locomoção dos animais. Suspeita-se que, em longo prazo, dependendo do tempo de exposição e da capacidade desses animais em lidar com essas substâncias tóxicas, esses danos podem impactar até na quantidade populacional desses animais, reduzindo o número de indivíduos de algumas espécies”, acrescenta Braz-Mota.